A Bíblia é a fonte da catequese por excelência, a catequese deve estar impregnada da Bíblia e receber dela a luz para confrontar fé e vida. Mas é necessário conhecer a Bíblia, sua grande mensagem e o contexto histórico para que possamos transmitir aos catequizandos melhor esta mensagem de amor. O tema escolhido para o estudo este ano no Núcleo Santo é a Sagrada Escritura com enfoque no contexto bíblico de cada livro, com o objetivo de não apenas ler a Bíblia, mas entender melhor a sua mensagem. O livro escolhido para ser subsidio para os nossos encontros é o livro: Iniciação a leitura da Bíblia-lições para a vida, autor: Dom Amaury Castanho, Editora Santuário. Iremos postando mensalmente os temas estudados no encontro, procurando assim partilhar as experiências vividas e questionamentos que surgem nestes encontros de formação.
O uso da Bíblia na Catequese
Em todas as formações por onde passamos sempre ouvimos que a Bíblia é o livro por excelência da catequese,ou seja,o seu principal instrumento.Na verdade todo encontro catequético deve estar fundamentado na Palavra de Deus para um resultado eficaz no processo de Evangelização das crianças,jovens e adultos.Não há mais como conceber uma catequese onde a Bíblia não seja utilizada de forma meditativa, onde o catequista leve de fato os catequizandos a estudarem e meditarem a Palavra de Deus.
A Bíblia é o principal livro da catequese, a mais importante fonte do processo de evangelização. Isso é fácil de entender, pois sabemos que a Bíblia é, para nós, Palavra de Deus. Se, na catequese, o que se pretende é ajudar o catequizando a realizar o seu encontro com Deus, fica clara a importância da Palavra de Deus por meio da qual se realiza esse encontro. A catequese é, sem dúvida, centrada na Palavra de Deus. O catequizando deve aprender a escutar a Bíblia e deve ser incentivado a vivenciá-la. Por meio da Palavra, Deus se comunica conosco e nós nos comunicamos com Ele.
É impossível compreender exatamente o que seja a catequese sem compreender profundamente a Palavra de Deus. O Diretório Nacional de Catequese nos fala que é preciso que a catequese seja alimentada e dirigida pela Sagrada Escritura. É tão grande a força e virtude da Palavra de Deus que fornece à Igreja a solidez da fé, o alimento da alma, fonte pura e perene da vida espiritual. A própria Escritura testemunha: A "Palavra de Deus é viva e eficaz" (Hb 4,11).
A Bíblia é, pois, o primeiro livro de catequese. Antes de a Bíblia ser escrita, Israel encontrou-se com seu Deus e alimentou sua vida de fé numa longa experiência comunitária de luta pela sua sobrevivência e dignidade. Nessa experiência vai despontando o jeito catequético de Deus, através do qual Israel foi aprendendo a ver Deus no centro de sua história e da vida de cada um.
Por meio dessa longa experiência, podemos comparar a Bíblia com uma antiga “máquina de costura”, que vai costurando a aliança de Deus com o povo e do povo com Deus. O “carretel de linha” é o mistério do amor de Deus que vai penetrando os orifícios de nossa vida. A “canelinha” somos nós, que devemos corresponder à penetração da agulha de Deus em nossa vida. O importante é “firmar o ponto” e não afrouxar a costura, senão vamos “franzir” a nossa vida cristã. Através de nossa liberdade podemos cortar a linha e quebrar a aliança com Deus. A catequese é, portanto, a constante “costura” que fazemos com Deus. Não se faz roupa apenas em alguns momentos da vida. Daí a importância da catequese e de sua formação permanentes.
Depois de muito tempo, por inspiração de Deus, Israel vai pondo por escrito aspectos marcantes dessa experiência vivida à luz da fé. A vivência suscita os escritos. Na catequese de Deus os fatos precedem as escritas. É a grande pedagogia da Bíblia. Os escritos que vão surgindo mantêm viva e aprofundam a fé através de releituras posteriores provocadas pelos fatos novos.
Assim, o Diretório Nacional de Catequese afirma: "O texto sagrado nasceu em experiência comunitária: foi o processo que o próprio Deus escolheu para se comunicar. É função do texto bíblico alicerçar e vivificar a comunidade dos que creem, fazendo crescer a unidade da Igreja, que não é uniformidade, mas deriva de um espírito básico de comunhão... A Bíblia nasceu na e para a comunidade de fé. Ela será vista em suas perspectivas mais importantes só quando relacionada com a comunidade" (DNC 177-185).
Uma das características da Catequese renovada e ratificada no Diretório Nacional de Catequese é a "Interação fé-vida”: O conteúdo da catequese compreende dois elementos que se interagem: a experiência da vida e a formulação da fé. A interação entre fé e vida é a tarefa principal, a arte do catequista e seu constante desafio diante das situações concretas (DNC 26). Esta interação não pode ser de palavra, igual óleo no copo de água: só se mistura quando é remexido. Deve ser a interação do óleo e da água na panela quente para cozinhar o arroz. Uma vez misturados, não se separam mais. Toda a Palavra de Deus é esta grande interação entre fé e vida.
A Bíblia nos traz valiosos testemunhos de mulheres e homens que declararam o quanto tiveram consciência de que Deus é parceiro e está no centro da caminhada. De tudo isto, a Bíblia é fruto e história. A Sagrada Escritura é, ao mesmo tempo, testemunho oficial e orientação autorizada do período fundador da nossa comunidade de fé. Por isso mesmo, a Bíblia é livro catequético por excelência.
Na Bíblia não existem textos sem valor, banais, mesmo que às vezes se tenha esta impressão. Eles têm seus valores, ainda que ocultos. Daí a necessidade de boa formação bíblica para perceber qual catequese está por trás de tais textos. Para isto é importante dar bastante atenção ao texto. Evitar a ânsia de nos servirmos do mesmo texto para expor nossas ideias, não prestando atenção ao que ele tem a nos dizer.
A pedagogia de Deus é a revelação progressiva através de palavras e acontecimentos na caminhada do povo. Nada pronto de cima para baixo. Na medida em que o povo caminhava, ia reavaliando suas reflexões e ações numa linha progressiva. A pedagogia bíblica é a reflexão na caminhada. Nada de receitas prontas. Na medida em que a comunidade caminha, reavalia reflexões e soluções do passado, às vezes corrigindo-as. É o caso, por exemplo, da responsabilidade pessoal.
A pedagogia bíblica nos ajuda a ver problemas e nos mostra que suas soluções estão na comunidade de fé, onde aprendemos a traduzir em oração e em catequese tudo o que acontece: alegria, dores, esperanças. Neste sentido, é importante o uso de uma linguagem simbólico-cultural, que situa catequista e catequizando em sua cultura.
Contudo, é preciso valorizar ainda mais a importância da Bíblia a nível pessoal e comunitário, e promover uma catequese que seja fundada na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, vivificando os programas catequéticos e os próprios catecismos, a pregação e a piedade popular. Em todas as catequeses integrais devem estar sempre presentes, inseparavelmente unidos, o conhecimento da Palavra de Deus, a celebração da fé nos sacramentos e a profissão da fé na vida quotidiana. Deste modo, estaremos fazendo e vivendo uma catequese pautada na Palavra de Deus e tendo a certeza de que estamos no caminho certo, e que nossa catequese hoje possa responder aos anseios de nossos catequizandos. Que na catequese seja valorizada a leitura orante da Bíblia, e que todas a nossa paróquia, iluminadas pela Palavra de Deus, se coloquem na escola da Palavra, que é alimento diário para a nossa caminhada de fé neste mundo tão conturbado em que vivemos, onde somente a Palavra de Deus nos ilumina a viver a santidade.
Conhecendo a Bíblia Sagrada
A Bíblia se divide em duas partes principais: o Antigo Testamento e o Novo Testamento. O Antigo refere-se ao período anterior a Jesus Cristo e o Novo se refere ao período cristão. Cada uma destas partes se compõe de diversos 'livros', escritos em épocas históricas diferentes. A seguir, a relação dos livros com uma breve referência ao conteúdo deles.
LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
- Pentateuco (cinco primeiros livros: Gênesis, Êxodo, Levitico, Números, Deuteronômio)
- Josué (narra a entrada do povo de Deus na Palestina)
- Juizes (narra a conquista da Palestina)
- I e II de Samuel (relatos da época de Saul e Davi, continuação da conquista)
- I e II dos Reis (relatos sobre Salomão e seus sucessores)
- I e II das Crônicas (continuação dos relatos sobre os outros Reis)
- I e II dos Macabeus (continuação do período dos Reis)
- Livro de Rute (faz alusão ao universalismo. Noemi era pagã e se inseriu no povo de Deus).
- Livro de Tobias, Livro de Judite, Livro de Ester (pertencem ao gênero de contos. São livros do tempo do exílio, quando se apresentavam exemplos de abnegação ao povo oprimido, convidando-os a suportar o sofrimento).
- Livro de Isaías (cap.l a 39 são do próprio escritor; cap. 40 a 55 são de discípulos; cap.56 a 66 são de outros escritores posteriores)
- Livro de Jeremias (ditado por este a Baruc, seu secretário)
- Livro de Ezequiel (um dos profetas maiores)
- Livro de Daniel (tem um conteúdo apocalíptico )
- Livro de Jó (do gênero conto, procura demonstrar que não só os bons são felizes. Tem por objetivo combater uma idéia comum de que só os ricos eram os abençoados por Deus).
- Livros Sapienciais (Eclesiastes ou Qohelet; Eclesiástico ou Siráside; Provérbios, Sabedoria e Cântico dos Cânticos). São reflexões de cunho acentuadamente humanístico, aproveitamento do saber oriental.
- Livro dos Salmos (coleção de cantos litúrgicos).
- Profetas Menores: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias (chamados menores não com relação à sua importância, mas ao tamanho de seus escritos).
LIVROS DO NOVO TESTAMENTO
- Evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas - têm muitas semelhanças entre si ).
- Evangelho de João (maior desenvolvimento teórico, influência filosófica de época)
- Atos dos Apóstolos (narram a missão dos apóstolos após a Ressurreição de Cristo)
- Epístolas de Paulo (historicamente, os primeiros escritos do NT)
- Epístolas Católicas (Pedro, Tiago, Judas): dirigidas a todos os fiéis, por isso, universais.
- Apocalipse (escrito por João, na base de códigos, símbolos).
A Bíblia é um conjunto por excelência. Sagrada Escritura ou Livros Sagrados , isto é, escritos sagrados tanto levando em conta o seu autor principal, Deus, quanto seu conteúdo, a história da Salvação. A Bíblia é um livro inspirado e é muito importante saber entender esta inspiração, para haurir com proveito a mensagem subjacente em suas palavras. Dizer que a Bíblia é inspirada não quer dizer que o escritor sagrado (ou hagiógrafo) foi um mero instrumento nas mãos de Deus, recebendo mensagens ao modo psicográfico. É necessário entender o significado mais próprio da 'inspiração' bíblica, assunto que será abordado na continuação.
No século IV, a Igreja se reuniu em Concilio em Nicéia, e uma das tarefas era organizar o "cânon", ou a lista de livros sagrados considerados autênticos. Neste Concilio, os livros foram estudados e se investigou quais os que sempre foram lidos nos cultos e sempre foram considerados legítimos. E se estabeleceu a ordem ainda hoje conservada. O motivo pelo qual alguns livros foram postos em dúvida era a grande quantidade de livros apócrifos, que fazia com que se duvidasse dos verdadeiros. Havia muitos livros que os judeus não aceitavam. Então os Ss. Padres ponderaram os prós e contras e definiram a lista que foi aprovada.
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