quarta-feira, 18 de julho de 2012

O galo que cantava para o sol nascer- parábolas atuais




Era uma vez um galo que acordava bem cedo todas as manhãs e dizia para a bicharada do galinheiro:- Vou cantar para fazer o sol nascer…
Ato contínuo subia até o alto do telhado, estufava o peito, olhava para o nascente e cantava seu belo canto!E ficava esperando.Dali a pouco a bola vermelha começava a aparecer, até que se mostrava toda, acima das montanhas, iluminando tudo.
O galo se voltava, orgulhoso, para os bichos e dizia:- Eu não falei?
E todos ficavam boquiabertos e respeitosos ante o poder tão extraordinário conferido ao galo: cantar para fazer o sol nascer.Ninguém duvidava. Tinha sido sempre assim.
Havia grande ansiedade entre os moradores do galinheiro. E se o galo ficasse rouco? E se esquecesse da partitura? Quem cantaria para fazer o sol nascer? O dia não amanheceria? E por causa disso cuidavam do galo com o maior cuidado. Ele, sabendo disso, sempre ameaçava a bicharada, para ser mais bem tratado.
- Olha que eu enrouqueço! – dizia.
E todos se punham a correr, para satisfazer as suas vontades.O galo, por sua vez, tinha enormes oscilações emocionais. Pela manhã, depois de o sol nascer, sentia-se como um deus, onipotente e admirado e não era para menos. Mas à noite vinham a depressão e a ansiedade.- Não posso perder a hora, dizia. Se eu não cantar, o sol não vai nascer. E não conseguia dormir um sono tranquilo.
Aconteceu, como era inevitável, que certa madrugada o galo perdeu a hora. Não cantou para fazer o sol nascer. E o sol nasceu sem o seu canto. O galo acordou com o rebuliço no galinheiro. Todos falavam ao mesmo tempo.- O sol nasceu sem o galo… O sol nasceu sem o galo…
O pobre do galo não podia acreditar naquilo que seus olhos viam: a enorme bola vermelha, lá no alto da montanha. Como era possível? Teve um ataque de depressão ao descobrir que o seu canto não era tão poderoso como sempre pensara. E a vergonha era muita.
Os bichos, por seu lado, ficaram felicíssimos. Descobriram que não precisavam do galo para que o sol nascesse. O sol nascia de qualquer forma, com o galo ou sem o galo.
Passou-se muito tempo sem que se ouvisse o cantar do galo.
Até que, numa bela manhã, o galinheiro foi despertado de novo com o canto do galo. Lá estava ele, como sempre, no alto do telhado, peito estufado.
- Está cantando para fazer o sol nascer? – perguntou o peru em meio a uma gargalhada.
- Não, – respondeu o galo. Antes, quando eu cantava para fazer o sol nascer, mas agora eu canto porque o sol vai nascer. 

 (Adaptação da fábula contada por Rubem Alves)

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Fonte: Carmelo- Informativo dos leigos Carmelo

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